segunda-feira, 24 de maio de 2010

BCAA: CERTAMENTE VOCÊ JÁ OUVIU FALAR


Os aminoácidos de cadeia ramificada compreendem três nutrientes essenciais - leucina, isoleucina e valina - encontrados sobretudo em fontes protéicas de origem animal (Hendler & Rorvik, 2001). Particularmente, considero os BCAA’s como os maiores fenômenos dentre os recursos ergogênicos nutricionais. Há cerca de doze anos recebo questionamentos vindos de pessoas interessadas em utilizá-los para as mais variadas finalidades como por exemplo, aumento da massa muscular e retardo do processo de fadiga. Desta forma, daremos a seguir especial atenção a estes três aminoácidos.
Há muito tempo os aminoácidos de cadeia ramificada têm sido utilizados na nutrição clínica mas, neste artigo, será dada ênfase à polêmica aplicabilidade dos BCAA’s como recurso ergogênico.
Metabolismo
Apesar de os aminoácidos não serem considerados a principal fonte de energia para a contração muscular, os BCAA’s atuam como importante fonte de energia para o músculo esquelético durante períodos de estresse metabólico. Nessas situações, podem promover a síntese protéica, evitando o catabolismo protéico e servindo como substrato para a gliconeogênese*. Os BCAA’s são catabolizados especialmente no músculo esquelético, estimulando a produção de glutamina e alanina dentre outras substâncias (Hendler & Rorvik, 2001).
Efeitos ergogênicos propostos
Estudos feitos indicaram que os BCAA’s podem auxiliar na hipertrofia muscular (Blomstrand et al., 2006; Carli et al., 1992), ter ação anticatabólica (Blomstrand & Saltin, 2001; Maclean et al., 1994), retardar a fadiga central (Blomstrand et al., 1991; Newsholme & Blomstrand, 2006), melhorar a performance (Blomstrand et al., 1995; Madsen et al., 1996) - mesmo em indivíduos submetidos a restrição energética (Mourier et al., 1996) ou quando realizaram exercícios sob elevadas temperaturas (Mittleman et al., 1998), poupar os estoques de glicogênio muscular (Blomstrand & Saltin, 2001), aumentar os níveis plasmáticos de glutamina após exercício intenso (Blomstrand & Saltin, 2001; Bassit et al., 2000), podendo fortalecer o sistema imunológico e atenuar o dano muscular ocasionado durante exercício de endurance prolongado (Greer et al., 2007).
Carli e colaboradoress (1992) avaliaram catorze atletas com o objetivo de analisar os efeitos dos BCAAs em corridas contínuas de uma hora. Antes de cada teste, os atletas receberam dez gramas de BCAA’s. Ao final, observou-se que sua ingestão promoveu aumento da liberação de testosterona após o exercício. O resultado desse estudo fez com que muitos atletas passassem a usar esta suplementação como auxílio no ganho de massa muscular.
Além de estarem relacionados à melhor síntese protéica, outras pesquisas têm demonstrado que a suplementação com BCAA’s pode inibir o catabolismo protéico durante (Maclean et al., 1994)  ou após o exercício (Blomstrand & Saltin, 2001).
Desta forma, percebe-se que alguns autores sugerem que aminoácidos essenciais são os principais reguladores da síntese de proteína muscular, ao contrário dos aminoácidos não-essenciais (Smith et al., 1998), e que os BCAAs, particularmente a leucina, parecem ser os mais importantes (Kimball & Jefferson, 2002). Entretanto, segundo Rennie e colaboradores (2006), estudos têm tentado provar a ideia de que um único aminoácido essencial (leucina) poderia estimular a síntese de proteína muscular na ausência de outros tantos aminoácidos. A maioria das pesquisas foi realizada com animais, ou seja, faltam estudos em humanos para comprovar esta teoria.
Exercícios prolongados causam redução na defesa imunológica do organismo e esse efeito parece estar associado à diminuição plasmática de glutamina pós-exercício. Uma alternativa de suplementação a fim de reverter a diminuição da concentração de glutamina e em consequência, a incidência de infecções, seria a oferta de BCAA's, uma vez que servem de substrato para a síntese deste aminoácido (Blomstrand e colaboradores (1995).
Fadiga central
A fadiga física é definida como a inabilidade de manter a potência, podendo ser de origem central e periférica. Muitos fatores têm sido relacionados à fadiga periférica (ex. depleção das reservas de glicogênio ou fosfocreatina e aumento das concentrações de lactato). Entretanto, os fatores envolvidos com a fadiga central são menos conhecidos (Newsholme & Blomstrand, 2006). A suplementação com os BCAA’s também tem sido estudada há muitos anos por causa do suposto papel desses aminoácidos na instalação do quadro de fadiga central durante o exercício prolongado. Maiores detalhes a respeito serão apresentados no próximo artigo. Não percam!

DOSES RECOMENDADAS
Aproximadamente 84 mg/kg/dia (sendo 40mg/kg/dia de Leucina, 17-25mg/kg/dia de Valina e 19mg/kg/dia de Isoleucina (Kurpad et al., 2006).
EFEITOS ADVERSOS
Altas doses (acima de 20 g/dia) podem provocar transtornos gastrintestinais, como diarréia, além de comprometer a absorção de outros aminoácidos (Williams, 1998).

Referências:
1.    BASSIT, R.A. et al. The effect of BCAA supplementation upon the immune response of triathletes. Medicine and Science in Sports and Exercise, v.32, n.7, p.1214-19, 2000.
2.    BLOMSTRAND, E. et al. Administration of branched-chain amino acids during on plasma concentration of some amino acids. European Journal of Applied Physiology, v.63, p.63-88, 1991.
3.    BLOMSTRAND, E. et al. Effect of branched-chain amino acid and carbohydrate supplementation on the exercise-induced change in plasma and muscle concentration of amino acids in human subjects. Acta Physiologica Scandinavica, v.153, p.87-96, 1995.
4.    BLOMSTRAND, E. et al. Influence of ingestion a solution of branched-chain amino acids on perceived exertion during exercise. Acta Physiologica Scandinavica, v.159, p.41-9, 1997.
5.    BLOMSTRAND, E. & SALTIN, B. BCAA intake affects protein metabolism in muscle after but not during exercise in humans.American Journal Physiology Endocrinology Metabolism, v.281, p.365-74, 2001.
6.    BLOMSTRAND, E. et al. Branched-Chain Amino Acids active key enzymes in protein synthesis after physical exercise.Journal of Nutrition, v. 136, S269-73, 2006
7.    CARLI, G. et al. Changes in the exercise-induced hormone response to branched chain amino acid administration.European Journal of Applied Physiology, v.64, p.272-7, 1992.
8.    GREER, B.K. et al. Branched-chain amino acid supplementation and indicators of muscle damage after endurance exercise. International Journal of Sports Nutrition and Exercise Metabolism, v. 17, p. 595-607, 2007.
9.    HENDLER, S. S. & RORVIK, D. PDR for Nutritional Supplements. Montvale, NJ: Medical Economics, 2001.
10.    KIMBALL, S.R. & JEFFERSON, L.S. Control of protein synthesis by amino acid availability. Current Opinion in Clinical Nutrition and Metabolic Care, v.5, n.1, p.43-5, 2002.
11.    KURPAD, A.V. et al. Branched-chain amino acid requirements in healthy adult human subjects. Journal of Nutriton, v. 136, S256-63, 2006
12.    MACLEAN, D.A.; GRAHAM, T.E. & SALTIN, B. Branched-chain amino acids augment ammonia metabolism while attenuating protein breakdown during exercise. American Journal of Physiology, v.26, p.1010-22, 1994.
13.    MADSEN, K. et al. Effects of glucose plus branched-chain amino acids, or placebo on bike performance over 10Km.Journal of Applied Physiology, v.81, n.6, p.2644-50, 1996.
14.    MITTLEMAN, K.D.; RICCI, M.R. & BAILEY, S.P. Branched-chain amino acids prolong exercise during heat stress in men and women. Medicine and Science in Sports and Exercise, v.30, n.1, p.83-91, 1998.
15.    MOURIER, A. et al. Combined effects of caloric restriction and branched-chain amino acids supplementation on body composition and exercise performance in elite wrestlers. International Journal of Sports Medicine, v. 18, p. 47-55, 1997
16.    NEWSHOLME, E.A. & BLOMSTRAND, E. Branched-chain amino acids and Central Fatigue. Journal of Nutrition, v. 136, S274-6, 2006.
17.    RENNIE, M. J. et al. Branched-chain Amino Acids as Fuel ans anabolic Signals in Human Muscle. Journal of Nutrition. 136:264S-268S, 2006.
18.    SMITH, K. et al. Effects of flooding amino acids on incorporation of labeled amno acids into human muscle protein.American Journal of Physiology. v. 275, E73–8, 1998.
19.    WILLIAMS, M.H. The Ergogenic Edge: Pushing the Limits of Sports Performance. Human Kinetics, 1998.

Fonte: http://www.proximus.com.br